A UNITA, o principal partido da oposição que o MPLA (ainda) permite que exista em Angola, criticou o boicote das televisões estatais (ou seja do MPLA) às suas iniciativas, salientando que isso vem “confirmar e oficializar a reiterada censura” e violação das leis e deontologia.
É urgente que a UNITA perceba que a Constituição, bem como as leis, terminam a sua validade quando em causa está o MPLA. Ou seja, acima das regras democráticas e de um Estado de Direito está o querer do partido que desgoverna Angla há 46 anos.
Um comunicado do Secretariado Executivo do Comité Permanente da Comissão Política, em que o órgão partidário analisa “todas as envolventes e consequências” da marcha do passado sábado organizada pelo partido a favor de eleições livres em Angola, sublinha que o veto à UNITA “não é da competência dos administradores da TPA” e que não são estes a determinar quem pode passar ou não na televisão pública do país.
Nada, em Angola, é da competência de administradores, directores, etc.. Quem manda no reino é, desde sempre, o triunvirato dos dirigentes “escolhidos por deus”: Presidente do MPLA (João Lourenço), Presidente da República (João Lourenço) e Titular do Poder Executivo (João Lourenço). E quando assim é, e é assim sempre, não vale a pena pedir que os jacarés do rio Kwanza sejam transferidos para o rio Cunene, na esperança de que o novo habitat os transforme em vegetarianos.
Os canais do MPLA (amamentados com dinheiro do erário público) de televisão TPA e TV Zimbo anunciaram na segunda-feira que vão iriam deixar de cobrir actividades da UNITA, justificando a decisão com agressões aos seus jornalistas numa manifestação convocada por aquele partido.
Recorde-se que, por falta de voluntários (mesmo que bem pagos), a TPA e a TV Zimbo (com o canino apoio do deputado João Pinto, do MPLA) tiveram de recrutar a imagem do jornalista guineense Adão Ramalho, que foi espancado no passado dia 12 de Março, em Bissau.
O posicionamento dos sipaios da TPA e da TV Zimbo, no cumprimento das ordens superiores do MPLA, foi transmitido no horário nobre das duas estações televisivas do MPLA (embora, corrobore-se, sustentadas com dinheiro roubado aos autóctones, nomeadamente aos nossos 20 milhões de pobres) com os respectivos autómatos a anunciarem a decisão das administrações dos dois órgãos de abandonarem a cobertura das actividades promovidas pela UNITA, não entrevistar os seus dirigentes, nem militantes ou outros responsáveis do partido e exigindo retractação e desculpas públicas da direcção da UNITA.
Em resposta, através do comunicado do Secretariado Executivo, a UNITA diz que os dois canais públicos “não são, de facto, seus concorrentes” e convida a tutela e os gestores daqueles órgãos (todos escolhidos, formados e formatados pelo MPLA) “a reflectirem sobre a sua reiterada prática panfletista e exclusivista contra a UNITA e o seu líder”.
Os posicionamentos “só vieram confirmar e oficializar a reiterada censura e confissão do desrespeito e da grave violação às leis e à deontologia que demonstram ignorar”, refere a UNITA.
O partido acrescenta que o seu presidente, Adalberto da Costa Júnior, condenou logo na altura “as acções dos jovens que impediram as reportagens dos correspondentes das televisões públicas” e assinala que “a legitima defesa dos colaboradores” dos canais “não pode resvalar no argumento de não lhes mandar cobrir futuros eventos organizados pela UNITA”.
O comunicado aborda ainda “o perfeito alinhamento do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social com as direcções da TV Zimbo e TPA” sobre o incidente ocorrido.
O Secretariado Executivo tomou também “boa nota” das preocupações da Comissão multisectorial de combate à Covid-19, que repudiou a atitude da UNITA durante a marcha de sábado, em Luanda, por violar as medidas previstas para a situação de calamidade pública devido à pandemia, e recomenda que essas preocupação “sejam extensivas a todos os actores, incluindo o MPLA”.
Francamente! Quando será que a UNITA percebe que o MPLA está acima da lei? Só faltava essa de a UNITA querer ser tratada como se tivesse os mesmos direitos do dono do reino…
O MPLA, partido do poder há 46 anos, anunciou para sábado uma “Marcha dos Milhões” para demonstrar a sua popularidade e apoio ao Presidente angolano, João Lourenço. Ao que tudo indica estarão presentes cerca de 32 milhões de angolanos, faltando apenas confirmar se José Eduardo dos Santos estará presente…
A iniciativa surge em resposta à marcha da UNITA, que juntou em Luanda milhares de angolanos, incluindo de outras forças políticas da oposição e elementos da sociedade civil.
Porrada e pouca treta
Recordam-se que o deputado e secretário provincial da UNITA em Luanda, Nelito Ekuikui, foi agredido em Outubro de 2020, pela polícia angolana numa manifestação e, segundo testemunhou o Folha 8, vários jovens que participavam no protesto foram detidos, entre os quais o secretário provincial da JURA em Luanda, Manuel Epalanga.
Nelito Ekuikui disse não ter havido nenhuma razão que justificasse a agressão e afirma ter sido retido durante cerca de uma hora, acusando as autoridades de “uso excessivo da força” e de estarem a cometer uma ilegalidade.
“Disseram que a manifestação não podia ocorrer porque violava o decreto presidencial [que actualizava a situação de calamidade e publicado no dia da manifestação], mas estão a violar a Constituição”, afirmou o deputado da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite, recordando que ele próprio foi legislador da lei de protecção civil, que não contempla a suspensão de direitos como os de manifestação.
“Claramente, este decreto foi forjado para impedir a manifestação”, acusou Nelito Ekuikui, criticando a presença das forças armadas nas ruas de Luanda e aconselhando o Governo a recorrer ao diálogo porque os protestos “não vão parar”.
O deputado da UNITA afirmou também que um dos organizadores da manifestação, o activista Dito Dali foi ferido e teve de receber assistência hospitalar, tendo sido detidos “cerca de 50 jovens”, entre os quais o presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira.
A marcha realizada no dia 24 de Outubro de 2020, convocada por activistas da sociedade civil, mas que contou com a adesão da UNITA e outras forças da oposição, visava reivindicar melhores condições de vida, mais emprego e a realização das primeiras eleições autárquicas em Angola, que estavam previstas para este ano e foram adiadas sem nova data.
A Policia utilizou balas reais, gás lacrimogéneo, cavalos e cães, tudo contra os populares que reclamam por emprego, eleições autárquicas, democracia e condenam a politica de João Lourenço que acusam ser pior ditador do que José Eduardo dos Santos.
Folha 8 com Lusa